.: Café Torrado e Moído :.
Resumo da Análise
Normas e Documentos de Referência
Reunião com a entidade representativa
dos Fabricantes
Laboratório Responsável pelos
Ensaios
Marcas Analisadas
Ensaios Realizados e Resultados
Observados
Conclusões
Conseqüências
Resumo da Análise
O café é consumido desde 1550, porém as
primeiras sementes de café chegaram ao Brasil somente em 1727, por
intermédio do sargento-mor Francisco de Melo Palheta, que as contrabandeou
da Guiana Francesa para o Maranhão. Entretanto, a ausência de condições
naturais favoráveis fez com que o cultivo fosse redirecionado para
o Sul do país. Os frades capuchinhos foram os primeiros a plantar
café no Rio de Janeiro. De lá, saíram as primeiras sementes para
as regiões dos arredores da cidade e depois para São Paulo e Minas
Gerais.
A primeira exportação data de 1795, mas
foi apenas a partir de 1880, com o trabalho dos colonos europeus
nos cafezais e com o surgimento dos barões do café, que se iniciou
um novo ciclo econômico no Brasil, tornando o país o maior produtor
mundial de café, posto que ocupa até hoje. Atualmente, sua produção
e comercialização movimenta US$ 4,5 bilhões por ano e representa
4% do Produto Interno Bruto, gerando uma receita de US$ 2 bilhões
e criando cerca de 5 milhões de empregos diretos no campo.
A bebida é feita a partir da infusão do
café torrado e moído, ou seja, da adição de água e com o emprego
de calor.
Estima-se que o seu consumo interno esteja
em torno de 9,3 milhões de sacas por ano. Porém, apesar deste número
elevado, o consumo per capita (por pessoa), por ano, no Brasil,
tem apresentado uma queda ao longo dos anos. Em 1965, este consumo
era superior a 4,8 kg por pessoa, por ano, enquanto que, em 1989,
este valor era estimado em torno de 2,27 kg.
A fim de reverter este quadro, a ABIC
Associação Brasileira da Indústria de Café instituiu, em
1989, o Programa de Controle do Café Torrado e Moído/Selo de Pureza
ABIC, um programa de auto-regulamentação do setor com os seguintes
objetivos:
- devolver ao consumidor a credibilidade
no produto;
- desenvolver em todo o público conhecimentos
sobre o café;
- retornar ao consumo per capita de café
no Brasil dos anos 60;
- solucionar o problema de fraudes.
O Selo de Pureza surgiu em 1987, quando
uma pesquisa constatou que, para o consumidor brasileiro, "todo
o café era igual", "a maioria tem mistura"
e que "o melhor produto era exportado". Essa realidade
era conseqüência direta dos tabelamentos de preços e do próprio
programa de aumento de consumo interno, desenvolvido, na década
de 60, pelo extinto IBC Instituto Brasileiro do Café, que
resultaram na proliferação de torrefadoras que, além de não atenderem
aos requisitos mínimos de qualidade dos grãos utilizados, ainda
adulteravam seus produtos.
Essas fraudes são feitas através da adição
de matérias estranhas ao café, milho e cevada, por exemplo, antes
da sua torrefação. O aspecto granuloso do café, sua textura oleosa
e aderente e a sua cor contribuem para que tais substâncias estranhas
tornem-se quase imperceptíveis, tornando difícil seu reconhecimento
sem o auxílio de aparelhos e métodos analíticos especiais.
A partir de campanhas institucionais veiculadas
através dos órgãos de imprensa para divulgar o Selo e da verificação
periódica dos produtos, realizada pela própria ABIC, esta realidade
está mudando,
- no início das fiscalizações, quase 30%
das amostras analisadas pela ABIC continham misturas. Atualmente,
esse índice caiu para 3% e está relacionado, quase em sua totalidade,
a marcas não associadas e, portanto, sem o Selo;
- tanto o consumo per capita quanto a produção
cresceram, alcançando valores próximos a 3,34 kg/ano e 11 milhões
de sacas, respectivamente;
- o número de empresas associadas à ABIC
aumentou, de 1988 para 1996, de 220 (responsáveis por 350 marcas),
para 538 (responsáveis por 1.062 marcas), sendo que existem, atualmente,
1.800 empresas torrefadoras de café, que respondem por cerca de
2.500 marcas;
- Hoje, o Selo de Pureza ABIC é atestado
imprescindível para as indústrias, pois sua presença é exigida
na maioria das concorrências e licitações de empresas públicas
e privadas.
É importante esclarecer ao consumidor, que
a presença do Selo na embalagem do café atesta a pureza e a confiabilidade
do produto encontrado no mercado, ou seja, se ele está comprando
um café sem nenhum tipo de mistura. Ele não garante o melhor ou
pior sabor, já que esta é uma característica subjetiva e inerente
ao paladar de cada indivíduo.
Normas e Documentos de Referência
Os ensaios verificaram a conformidade de
amostras de café torrado e moído de acordo com os seguintes documentos:
- Resolução nº 12, de março de 1978, da
Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (estabelece
os padrões de identidade e qualidade para alimentos e bebidas);
- Portaria nº 01, de 28 de janeiro de 1987,
da Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Alimentos (define
critérios e padrões microbiológicos para produtos expostos à venda
ou de alguma forma destinados ao consumo);
- Portaria Inmetro nº 210, de 15 de setembro
de 1992 (análise metrológica).
A Portaria para avaliação microbiológica
de alimentos, em vigor desde setembro de 1997, e que revoga todos
os parâmetros microbiológicos pré-existentes, não foi utilizada
pois, segundo a ABIA Associação Brasileira das Indústrias
de Alimentação e o laboratório que realizou os ensaios, alguns
parâmetros foram digitados em colunas erradas para certas classes
de alimentos, tornando a nova Portaria muito mais rígida, principalmente,
no que diz respeito à pesquisa de bactérias do grupo Coliforme.
Uma proposta com correções e alterações
para aprimoramento da Portaria de 1997, elaborada pela Associação,
foi enviada à Secretaria de Vigilância Sanitária. Nesta proposta,
a ABIA sugere que os parâmetros da antiga Portaria, para avaliação
microbiológica do Café, sejam mantidos.
Reunião com a entidade representativa dos Fabricantes
Por entender que, para alcançar os objetivos
do Programa de Análise da Qualidade de Produtos, é necessário uma
maior articulação com o setor produtivo, o Programa incluiu, em
seu procedimento de análise, contatos prévios com a entidade representativa
dos fabricantes, para obter contribuições para o estabelecimento
da metodologia de ensaios.
Em reunião com o Inmetro, a ABIC forneceu
maiores detalhes a respeito do programa de auto-regulamentação do
setor e das análises periódicas realizadas para a concessão e manutenção
do Selo de Pureza.
Através de uma empresa de consultoria contratada,
os produtos, de empresas associadas e não associadas, são coletados
em mercados de todo o país, descaracterizados e enviados para laboratório.
Os resultados são passados para a ABIC que os encaminha aos PROCONs
e demais órgãos de defesa do consumidor.
A punição para problemas encontrados em
marcas de empresas associadas varia desde a suspensão do uso do
Selo de Pureza até a sua perda definitiva e exclusão do fabricante
do quadro de associados.
Em relação às análises, a Associação mostrou-se
particularmente preocupada com a metodologia a ser adotada para
o ensaio que determina a pureza do café. Segundo ela, o único método
considerado oficial seria o desenvolvido pelo Setor de Café do Instituto
Adolfo Lutz para determinação de impurezas e de adição de substâncias
estranhas.
Laboratório Responsável pelos Ensaios
Os ensaios foram realizados nos laboratórios
do Instituto Adolfo Lutz, integrante da rede de laboratórios oficiais
de controle da qualidade em saúde.
Marcas Analisadas
Com relação às informações
contidas na homepage sobre o resultados dos ensaios, você vai observar
que identificamos as marcas dos produtos analisados apenas por um
período de 90 dias. Julgamos importante que você saiba os motivos:
- As informações geradas pelo Programa
de Análise de Produtos são pontuais, podendo ficar desatualizadas
após pouco tempo. Em vista disso, tanto um produto analisado e
julgado adequado para consumo pode tornar-se impróprio, como o
inverso, desde que o fabricante tenha tomado medidas imediatas
de melhoria da qualidade, como temos freqüentemente observado.
Só a certificação dá ao consumidor a confiança de que uma determinada
marca de produto está de acordo com os requisitos estabelecidos
nas normas e regulamentos técnicos aplicáveis. Os produtos certificados
são aqueles comercializados com a marca de certificação do Inmetro,
objetos de um acompanhamento regular, através de ensaios, auditorias
de fábricas e fiscalização nos postos de venda, o que propicia
uma atualização regular das informações geradas.
- Após a divulgação dos resultados, promovemos
reuniões com fabricantes, consumidores, laboratórios de ensaio,
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnica e outras entidades
que possam ter interesse em melhorar a qualidade do produto em
questão. Nesta reunião, são definidas ações para um melhor atendimento
do mercado. O acompanhamento que fazemos pode levar à necessidade
de repetição da análise, após um período de, aproximadamente,
de 1 ano. Durante o período em que os fabricantes estão se adequando
e promovendo ações de melhoria, julgamos mais justo e confiável,
tanto em relação aos fabricantes quanto aos consumidores, não
identificar as marcas que foram reprovadas.
- Uma última razão diz respeito ao fato
de a INTERNET ser acessada por todas as partes do mundo e informações
desatualizadas sobre os produtos nacionais poderiam acarretar
sérias conseqüências sociais e econômicas para o país.
Ensaios Realizados e Resultados Observados
Foram compradas 03 embalagens para cada
marca de café selecionada. As amostras foram submetidas a ensaios
que verificaram as propriedades físico-químicas e microbiológicas
do produto e a presença de substâncias estranhas em sua composição.
Também foi feita uma verificação metrológica, ou seja, se a quantidade
de café presente na embalagem atende às disposições da Portaria
do Inmetro específica para o produto.
As amostras foram submetidas a ensaios de
conformidade em relação a:
- características organolépticas;
- características microscópicas;
- características físico-químicas;
- características microbiológicas;
- avaliação metrológica.
Características
Organolépticas
Este ensaio avalia as seguintes características
do pó de café:
- Aspecto: o pó deve ser homogêneo;
- Cor: sua cor pode variar, de acordo com
o processo de torração, do castanho-claro ao castanho-escuro;
- Cheiro: deve ser próprio do café recentemente
submetido ao processo de torrefação pois, à medida que o café
envelhece, seu odor se modifica lentamente devido à alterações
químicas sofridas pelo grão.
A análise destas características pode servir
como indicativo para a análise microscópica do produto. A presença
de uma quantidade excessiva de cascas, por exemplo, modifica, sensivelmente,
o aspecto e o aroma do café puro.
Todas as marcas analisadas foram consideradas
Conformes.
Características
Microscópicas
Os ensaios desta classe procuram avaliar
a pureza da amostra de café analisada, ou seja, verifica-se a presença
de impurezas e a incidência de substâncias estranhas adicionadas
ao produto com o propósito de fraudá-lo, as chamadas "misturas",
e que alteram as características do café.
O café torrado deve ser constituído por
grãos torrados, procedentes de espécimens vegetais genuínos, sãos
e limpos, ou o pó proveniente dos mesmos.
No Brasil, as fraudes encontradas com maior
freqüência são: a presença de cascas do café, paus, milho torrado,
açúcar, cacau torrado, terra, areia, etc.
De acordo com a Resolução nº 12/78, o máximo
permitido para impurezas presentes no café, seja em grão ou moído,
é de 1% (um por cento) do seu peso líquido total, por embalagem.
Foram encontradas
Não Conformidades em 03 (três) marcas.
Em duas delas foram encontrados 4,5% (quatro
e meio por cento) de cascas e paus, o que denota um problema no
beneficiamento da café que deu origem ao produto, ou na própria
matéria-prima.
A outra marca, além de uma quantidade acima
da permitida de cascas e paus (2,5%), apresentou também, em sua
composição, 75% de milho, o que caracteriza, nitidamente, um caso
de fraude através da adição de uma substância estranha.
Características
Físico-químicas
Os ensaios previstos pela legislação para
determinar as características físico-químicas do café torrado e
moído são realizados para esclarecer possíveis dúvidas que possam
surgir, durante a verificação microscópica, a respeito da sua pureza.
Uma marca classificada como Não Conforme
nos ensaios microscópicos, provavelmente também o será nos ensaios
físico-químicos, desde que as impurezas sejam encontradas em quantidade
que revele fraude.
São realizados os seguintes ensaios:
- Substâncias voláteis a 105 °C (umidade):
máximo de 6%;
- Resíduo mineral fixo: máximo de 5%;
- Resíduo mineral fixo, insolúvel em ácido
clorídrico a 10%: máximo de 1%;
- Extrato aquoso: mínimo de 20%;
- Cafeína: mínimo de 0,7%.
As marcas que apresentaram impurezas
na verificação microscópica, também revelaram problemas na avaliação
físico-química.
Duas marcas apresentaram quantidade de Resíduo
Mineral Fixo acima do permitido pela legislação (6,29% e 7,19%,
respectivamente). A não conformidade encontrada neste ensaio, denota
comprometimento da pureza do produto através da adição de materiais
de origem mineral, como areia, por exemplo.
No ensaio que verifica a dosagem de cafeína,
ou seja, se o que o consumidor está consumindo é, realmente, café,
apenas uma marca foi classificada como Não Conforme.
Há torrefadoras que, com a intenção de encobrir
a fraude, torram excessivamente o café. Neste caso, o produto analisado
é condenado pelo baixo teor de cafeína encontrado na análise química,
devido à sua volatilização por excesso de temperatura durante o
processo de torra.
Características
Microbiológicas
Os ensaios desta classe foram realizados
com base na Portaria nº 01/87 e avaliaram a conformidade do produto
em relação aos seguintes parâmetros:
- Salmonelas: ausência em 25 gramas do
produto;
- Coliformes Fecais: máximo de 10 NMP por
grama do produto;
- Bolores e Leveduras: máximo de 5 x 103
por grama do produto.
A contaminação acontece, quase sempre, após
a torrefação do café, pois o emprego de temperaturas elevadas elimina
o risco de se utilizar matérias-primas inadequadas. Porém, as condições
higiênicas envolvidas durante o manuseio e o acondicionamento do
produto final podem contaminá-lo.
Todas as marcas foram consideradas Conformes.
Avaliação Metrológica
A avaliação metrológica foi realizada pelos
IPEMs estaduais, seguindo a Portaria específica do Inmetro para
o produto, a fim de verificar se o conteúdo líquido declarado na
embalagem do produto, corresponde ao seu conteúdo efetivo.
Sete marcas foram consideradas Não Conforme
nesta análise.
Seis ficaram abaixo do critério de aceitação
em relação à média do conteúdo efetivo das embalagens analisadas
e uma ficou abaixo do critério de aceitação em relação, tanto ao
valor médio, quanto ao valor individual, do conteúdo efetivo das
embalagens analisadas.
Conclusões
Os resultados gerais dos ensaios evidenciaram
que a tendência de qualidade do café torrado e moído encontrado
no mercado nacional, pelo menos daquelas marcas que possuem o Selo
de Pureza da ABIC, é de estarem Conformes em relação aos regulamentos
vigentes.
Das 32 (trinta e duas) marcas analisadas,
apenas em 3 (três), ou seja, cerca de 9% (nove por cento), foram
encontradas não conformidades.
Apenas em três marcas, que não possuem o
Selo de Pureza, foram encontrados problemas em relação às características
físico-químicas e microscópicas do café. Os resultados dos ensaios
de uma delas denotam que houve fraude do produto através da adição
de milho.
Os laudos dos ensaios e o relatório Inmetro
serão encaminhados à Secretaria de Vigilância Sanitária e ao DPDC,
Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, para que sejam
tomadas as medidas cabíveis em relação às marcas Não
Conformes.
Conseqüências
DATA
|
AÇÕES
|
12/04/1998
|
Divulgação no Programa
Fantástico da Rede Globo de Televisão
|
13/04/1998
|
Foi enviada cópia do relatório
elaborado pelo INMETRO ao Departamento de Proteção
e Defesa do Consumidor - DPDC do Ministério
da Justiça.
|
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